quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Xaveco’ - O que fazer na hora H?

Rede Saci - 12/05/2009

A matéria faz parte da pesquisa de Leandra sobre a sexualidade da pessoa com deficiência

Por Leandra Migotto Certeza

Você está procurando companhia? Que tal ‘xavecar’ alguém? Se o problema é medo: relaxe. Agora tem até manuais para ensinar como se dar bem na ‘hora H’. Especialistas dizem que não existem regras para paquerar, mas quem conhece os ‘segredos’ da alma humana, aconselha a soltar as emoções, baixar defesas, sorrir, e não ter medo do desconhecido.

Para o psicólogo, especialista em sexualidade da pessoa com deficiência, Fabiano Puhlmann, paquerar é arriscar conhecer gente nova; uma boa forma de exercitar a quebra de preconceitos. “Qualquer lugar é perfeito. Mas é sempre bom ser curioso e prestar atenção às perguntas e respostas da outra pessoa, não se esquecendo do bom humor, do incentivo, e do caminhar passo a passo, sem definir logo sua intenção. Se aproximar devagar, mas não ficar parado”.

“O mais importante para o xaveco é ele acontecer, e não ficar guardado por medo da rejeição. O melhor nem sempre é aquele que dá certo, mas só o fato de existir, já é muito legal. Quanto mais verdadeiro, sensível e criativo ele for; mais chances você vai ter de se aproximar de alguém”, afirma Fabiano Rampazzo, jornalista e um dos autores do Manual do Xavequeiro (Matrix editora). Para o escritor Antônio*: “mesmo quando não funciona, o xaveco pode ser uma boa maneira de conhecer o jeito de ser de alguém, e de encarar a si mesmo e os outros”.

Rampazzo ainda arisca dizer que o dia em que o xaveco sair de moda a humanidade acaba. “As pessoas só nasceram porque o pai xavecou a mãe”. Antônio* pondera: “O xaveco só sairá de moda quando as pessoas perderem o gosto pela vida, nunca o impulso sexual; justamente porque a cantada não é só hormônio, é sintonia”. Para o jornalista as pessoas ainda são muito carentes de informações e sentem necessidade de trocar experiências. “Percebemos que existem homens querendo xavecar, mas com medo. E mulheres também querendo, mas passando vontade. Por isso fizemos quadro livros e um DVD”.

A bióloga Silvia Sant’ana discorda: “não acredito muito na eficiência do xaveco, prefiro uma abordagem mais sutil. A palavra ‘na moda’ soa como ‘xaveco furado’; acho um termo meio perdido”. A professora Maria* discorda: “para mim o xaveco está na moda, mas temos que tomar cuidado, pois uma cantada mal dada pode virar uma abordagem agressiva, e até assédio sexual”.

Use sempre o bom senso.

Depois de tomar coragem de partir para a conquista, ainda bate aquelas dúvidas? Onde paquerar? Qual o limite da investida? Tomo umas cervejas ou vou de ‘cara limpa’? O que fazer depois de levar um fora? Vejam o que nossos entrevistados disseram.

Rampazzo aponta que lugares mais propícios para receber ou fazer um xaveco são na balada, festa, danceteria, show, parque, rua, sala de espera de consultório, escola, cinema, teatro ou trabalho. Para o jornalista às vezes um lugar com muita gente pode facilitar, pois as pessoas estão mais à vontade; mas um xaveco no supermercado pode ser bom justamente pelo elemento surpresa. Silvia discorda: “nenhum lugar é o pior ou melhor para fazer um xaveco, depende da forma da abordagem. Vale até em um enterro se for bem feito”.

O escritor Antônio* concorda com Silvia; o melhor lugar para xavecar é aquele onde a pessoa atraente está. Maria* acredita que tem que acontecer o clima ideal. “De repente, na sala de espera de um consultório... Ou no trabalho, o que interessa é o momento adequado, só não dá para ser nada forçado”.

E todos os nossos entrevistados concordam: é preciso ter bom senso e, saber qual o momento de parar para não ser chato ou abusar de alguém. “Quando a pessoa não está à vontade não é legal xavecar, pois em vez de sedutor você pode ser um chato. Os xavecos que passei e não 'colaram' foram igualmente importantes, pois o fora é fundamental para qualquer ser humano. Nunca ninguém será uma unanimidade”, comenta Rampazzo.

Antônio* alerta: “nós temos medo de tudo e de nada, conforme a situação. E o medo, bem trabalhado, é sinônimo de prudência. Caretice à parte, timidez e descaramento não combinam com álcool; porque tiram a pessoa do seu normal, da sua postura verdadeira. Falhar é inevitável, quando as coisas não vão bem dentro da gente. Temer a exclusão ou a rejeição faz parte do jogo, mas não deve se tornar regra”.

“O pior xaveco que levei foi ridículo! Estava andando na rua, chegando para trabalhar em São Paulo. O cara começou a andar ao meu lado e perguntou: ‘Como você faz para paquerar alguém?’ Eu fingi que não entendi. Ele insistiu e disse que eu era bonita apesar de ser cega. Acho que um lugar horrível para xavecar é no transporte público. Me parece que é um momento em que as pessoas estão meio desprotegidas. Eu não me sinto confortável”, conta a professora Maria*.

Para Antônio* ninguém está livre de ser ‘romântico’, e de amar alguém além do desejo. “Machismo é anacronismo; já moral religiosa (quando bem dosada) é saudável e predispõe a um relacionamento mais decente. Ir ‘aos finalmentes’ só por ‘obrigação’ é burrice e não leva a nada permanente. É como uma barbarização ditada por modismos. Antiquado ou não, prefiro pensar no ‘outro’ com os mesmos direitos que eu, isto é, ninguém gosta de ser usado”.

Quem xaveca mais: o homem ou a mulher? Existe idade para paquerar?

“O homem xaveca, a mulher é xavecada, desde que o mundo é mundo é assim. Claro, há exceções, mas são raras. A mulher seduz, atrai o homem, mas a abordagem é quase sempre masculina. A minha fase com maior disposição para o xaveco foi entre os 18 e 28 anos. Mas isso está longe de ser uma regra, há homens que se descobrem xavequeiros aos 50. Eu mesmo, com 33, posso ainda viver esta fase de novo. Continuo xavecando a minha namorada. É bom manter sempre a chama acesa. Ainda que teoricamente a juventude, com suas necessidades de descobertas, seja a fase mais propícia para o xaveco”, afirma Rampazzo.

Antônio* discorda: “Ué, e tem fase pra xavecar...? Idade ideal pra sentir atraído por alguém? Isso não existe! Pra mim, só interessa saber se a pessoa se sente viva. Quem sabe xavecar melhor são pessoas abertas aos relacionamentos mais plenos, não importa o sexo. Homens e mulheres com essa visão da vida xavecam mais. Sinceramente, não sei em que época as pessoas começaram a não ter mais vergonha de paquerar. E se o feminismo, a chamada liberdade sexual, a massificação do erotismo, e outros fatores influenciaram a 'arte de xavecar'. Tudo faz parte de um contexto coletivo. É como a atual onda de aceitação da ‘não-privacidade’ (???); passa-se para um padrão de conduta diferente, mas não necessariamente imoral, obsceno. Apenas - no caso da paquera - mais aberto”.

Para Maria* os mais ‘xavequeiros’ ainda são os homens, pois fazem isso muito bem quando querem. “Acredito que eles sejam mais ‘descolados’, e até mais infantis, e menos críticos, por isso, fazem as melhores cantadas”.

“Você vem sempre aqui?”

“Eu estava num bar com minha amiga. Ela me disse que tinha um rapaz olhando insistentemente para ela. Mas estava confusa, porque o cara fazia sinais que ela não entendia. Ao sair do bar; um amigo me disse que eu havia sido muito antipática com aquele cara que ficou a noite toda pedindo para minha amiga me chamar, e eu nem ‘dei bola’. Quando eu contei que pensei que ele estava fazendo sinais para minha amiga e não para mim, o meu ‘paquera’ voltou para o bar e... Bom, tive dois filhos com ele”.

“Faz tempo que de descobri o jeito mais fácil, direto e legal de paquerar alguém: jamais usar a minha deficiência física como ‘propaganda’. Minha estratégia é simples: abro o jogo e corro os riscos”, confessa Antônio*.

“Tenho deficiência visual, por isso a tendência pode ser mais passiva. Porém, já utilizei muitas táticas: passar perto fingindo não estar ‘vendo’ a pessoa e, se possível, dar um esbarrão ou um tropeço bem na hora certa. Ter amigas que funcionam como cúmplices e ‘áudio descritoras’ das paqueras é ótimo, assim, podemos planejar o momento e abordagem ideal... Agora, sobre as artimanhas, não posso contar o ‘pulo do gato", confessa Maria*.

E se mesmo depois de ler todos os manuais, e ouvir os conselhos dos seus amigos; você ainda não sabe como passar um xaveco sem ser chato, ou receber uma cantada e não saber o que dizer; não se ache a ‘última pessoa do mundo’, pois o psicólogo Puhlmann explica que a paquera descompromissada é um jogo gostoso, de sorrisos, olhares meigos, elogios e papo descontraído. Não é algo ameaçador. E com o tempo e a intimidade pode evoluir para um relacionamento. “Aí surge a vontade do aconchego; o bate-papo em lugares românticos; o passeio de mãos dadas; as pequenas viagens; o encontro com os amigos antigos e novos de ambos... E tudo pode acontecer...”

*Os nomes das pessoas entrevistadas foram trocados para preservarem sua identidade.

Manuais sobre xaveco: www.xavequeiro.com.br

Leandra Migotto Certeza é jornalista com deficiência física e desenvolve o projeto em equipe: “Fantasias Caleidoscópicas”, ensaio fotográfico sensual com pessoas com deficiência. O projeto foi premiado no “6º Congresso Internacional Prazeres Dês-Organizados – Corpos, Direitos e Culturas em Transformação”, em Lima (capital do Peru), em junho de 2007; e reapresentado no “I Seminário Nacional de Saúde: Direitos Sexuais e Reprodutivos e Pessoas com Deficiência”, realizado pelo Ministério da Saúde, em Brasília, em março de 2009. Mais informações: leandramigottocerteza@gmail.com ou BLOG: http://leandramigottocerteza.blogspot.com/

Fonte: http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=25442

Fantasias Caleidoscópicas é premiado em Lima

Projeto brasileiro debate deficiência e sexualidade durante conferência do IASSCS

Por Marina Maria*

De 27 a 29 de julho de 2007, foi realizado em Lima, no Peru, o VI Congresso Internacional Prazeres Des/Organizados - Corpos, Direitos e Culturas em Transformação, promovido pela Associação Internacional para o Estudo da Sexualidade, Cultura e Sociedade (IASSCS). Integrantes do Sexuality Policy Watch participaram das atividades do congresso, na Universidad Cayetano Heredia, que se consolidou como um espaço de debate sobre direitos sexuais nos novos contextos políticos e culturais da América Latina e no resto do mundo.

Entre os trabalhos destacados nesta edição está o de Leandra Migotto Certeza, jornalista brasileira e ativista de direitos humanos que ficou em segundo lugar na categoria Apresentação de Pôster, com o projeto Fantasias Caleidoscópicas . Com apoio da IASSCS, a jornalista participou do evento e apresentou parte do ensaio fotográfico da fotógrafa Vera Albuquerque, em que pessoas com deficiência (física, auditiva, visual, intelectual, múltipla e/ou surdocegueira) são convidadas a mostrar sua beleza e sensualidade para as lentes.

Segundo Leandra, o objetivo delas com estes registros é questionar e romper com o paradigma da beleza instaurado na sociedade atualmente e reforçado pela mídia, em geral. “Vera questiona o padrão de beleza instituído pelos meios de comunicação e pela moral dominante, ressaltando a possibilidade de uma democratização do prazer, uma igualdade de direitos sexuais, uma disposição das mentes (e de corações) contra os juízos prévios e os pré-conceitos”, destaca Leandra.

O projeto teve início em 2004, com a proposta de expor as fotos artísticas em espaços públicos, como museus, universidades e centros culturais, no Brasil e no exterior e, futuramente, gerar dois livros, um com as fotos e outro com as entrevistas feitas por Leandra com as pessoas fotografadas. No momento, o projeto busca parcerias com empresas e organizações não-governamentais para continuar.

Já o convite para participar do VI Congresso Internacional Prazeres Des/Organizados foi feito por Maria Esther Mogollón, jornalista e mestre em Gênero, Sexualidade e Saúde Reprodutiva pela Universidad Peruana Cayetano Heredia e integrante do Movimiento Amplio de Mujeres Fundacional (MAM).

Durante o evento, Leandra foi uma das debatedoras de uma mesa coordenada por Maria Esther Mogollón com o tema Sexualidad y Mujeres con Discapacidad, junto com Maria Rosa Pimentel, Madezcha Cépeda Basán e Marta Montoya, mulheres peruanas também com deficiência integrantes da MAM. As participantes procuraram romper com estigmas em torno do tema sexualidade de pessoas com deficiência e, a partir disso, defender o direito à participação deste grupo, ainda em situação de vulnerabilidade. Marta, por exemplo, que nasceu com deficiência visual, compartilhou sua experiência como mãe de dois filhos, e Madezcha deu um depoimento sobre sua vida após acidente que deixou seqüelas físicas em seu corpo e, principalmente, falou sobre sua sexualidade.

Além das fotos e do debate, a jornalista expôs, junto a cartoons produzidos por Ricardo Ferraz, um panorama sobre a realidade da pessoa com deficiência no Brasil, denunciando que a sexualidade e outros aspectos relativos a esta parcela da população não são, em geral, trabalhados. Ao mesmo tempo, que dados do Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000 mostram que existem 24,5 milhões de brasileiros(as) com deficiência – o equivalente a 24,5% da população brasileira – o que se observa, na prática, é que pessoas com deficiência estão inseridas num constante ciclo de invisibilidade. Assim, não são contempladas por políticas públicas, não são incluídas em projetos sociais em desenvolvimento, tanto na esfera governamental quanto na da sociedade civil organizada, e sequer mencionadas de forma transversal em pesquisas e estudos sobre distintas temáticas.

Com relação à abordagem do tema no congresso, Leandra informou que “infelizmente, mais uma vez, o tema da deficiência não foi sequer citado por 99% dos(as) palestrantes. É uma realidade que não pode ser mais esquecida pelas pessoas que trabalham pelos Direitos Humanos”. Apesar disso, ela avalia sua participação no VI Congresso Internacional Prazeres Des/Organizados - Corpos, Direitos e Culturas em Transformação e a premiação de seu trabalho como marcos na discussão em torno do direito de pessoas com deficiência vivenciarem suas experiências sexuais e afetivas. “Muitas dessas vozes (de pessoas com deficiência) foram ‘ouvidas’ por meio das imagens e dos depoimentos que apresentei no congresso, junto aos dados sobre a deficiência no Brasil. Foi sem dúvida, um momento histórico”, finaliza.

Mais informações sobre o trabalho de Leandra Migotto Certeza:

Tel.: +55 11 3453-5370
* Marina Maria é jornalista do Secreatariado do Observatório de Sexualidade e Política, na Abia

Grávida de mim mesma

Por Leandra Migotto Certeza


Estou grávida de mim mesma. A concepção aconteceu tão rápido que eu nem me dei conta que o óvulo foi fecundado há mais de 14 anos, depois de muitas tentativas imaturas. A gestação é dolorida e pesada, e está só começando…

O embrião se contorce a cada nova descoberta. A respiração fica mais lenta ou acelera a cada novo choro convulsivo ou abafado. O medo e a insegurança dão lugar a novas descobertas.

Conhecer a si mesmo no mesmo ritmo que se sente é complicado, mas parece o jeito mais sólido e intenso de se transformar e evoluir. Eu não posso engravidar, mas tenho o direito de ser mãe tendo uma deficiência física! Eu não posso dançar flamenco e tango, mas tenho o direito de me arrepiar quando vejo os corpos se unirem com a alma, a cada passo dos bailarinos.

Queria estar no lugar de quem tem um corpo diferente do meu. Tenho o direito de desejar ser outra pessoa, e como é bom! Não preciso bancar a conformada, aceitar a roupa de heroína (que me colocaram) ou me afundar no poço da depressão. Escolhi o caminho do meio.

Eu não posso fazer amor com tanta volúpia, e em posições que sempre sonhei; mas posso ter orgasmos estupendos! Eu não posso sentir meu corpo mudar, ao abrigar um novo ser em meu ventre, mas posso amar – incondicionalmente – as crianças que habitam e habitarão o meu coração.

Crescer é isso… Lidar com frustrações o tempo todo. Saber que a resiliência é o nome bonito que deram para a capacidade de amar. Eu não posso amamentar um bebê quentinho em meus braços, mas tenho muita seiva escorrendo, pelos fios da minha alma, para alimentar espíritos sedentos.

Eu tenho 96 cm, e o tamanho de quem eu queira ser, a cada novo amanhecer. Eu tenho o direito de me revoltar, quebrar vidraças internas, gritar bem alto e depois adormecer no colo do meu amado. Fui poupada de tantas dores que a ferida só aumentou. A culpa não existe. É um sentimento idiota que o ser humano inventou para se auto-punir, por temer se olhar no espelho. Religião é re-ligar, e não desligar o ser da realidade da sua imperfeição. Mas o melhor mesmo é encontrar um significado novo, a cada dia, para o que podemos ou não conseguimos.

O processo de crescimento é lento, mas tem raízes, tronco, caules, folhas, flores e frutos. Muitos frutos! Não é infértil. É grávido de vida. O meu auto-conhecimento se intensificou com a pancada da impossibilidade de não engravidar nunca. O meu conhecimento sobre a vida; se multiplica cada vez que eu aprendo a me adaptar às potencialidades; e me dou o direito de vomitar o que sei que posso transformar, mesmo que ainda seja indigesto.


Descrição da imagem: foto, em close, das minhas pernas fechadas e com as mãos cruzadas sobre os joelhos, bem no meio do local por onde nascem os bebês. Estou de bermudas jeans super curtas; e sentada em minha cadeira de rodas.

Reconhecimento Internacional do Projeto Fantasias Caleidoscópicas

Fantasías caleidoscópicas

Por Luis Eduardo Martínez

“Siempre he estado orgullosa, incluso en medio de las prótesis, del dolor, de mis formas retorcidas, y la falta de piernas. Siempre me ha gustado sonreír. Siempre sentí atractivo por mostrarme. Por amarme. Por quererme”. Con estas palabras, Leandra Migotto Certeza, una periodista brasileña con una notoria discapacidad motriz que afectó seriamente su crecimiento, da la bienvenida a un osado proyecto fotográfico y literario, donde a modo de ensayo incursiona en su propio potencial erótico. Leandra es una acreditada referente del colectivo de personas con discapacidad en su país, además de reportera de la Red SACI, columnista de la Agencia Inclusive y la Revista Sentidos, activista en derechos humanos de la ONG Conectas y voluntaria de la Asociación Brasileira de Osteogénesis Imperfecta.

El proyecto que Leandra encarna junto a la fotógrafa Vera Albuquerque se titula “Fantasías Caleidoscópicas, cuerpos diferentes, miradas reflejadas”, y se trata de una investigación en equipo que busca retratar la imagen (la mayor parte de las veces, prejuiciosa) que la sociedad tiene de la sexualidad de las personas con discapacidad, a través de: un ensayo fotográfico sensual, una exposición itinerante, dos publicaciones y charlas interactivas sobre salud sexual en instituciones educativas y centros culturales de Brasil y otros países interesados en el proyecto.

Para la fotógrafa, este proyecto cuestiona los patrones de belleza instituidos por los medios de comunicación o por la moral dominante, resaltando la posibilidad de una democratización del placer, una igualdad de los derechos sexuales, una disposición de las mentes y de los corazones contra los juicios previos y los preconceptos.

Por su parte, la periodista y activista señala que dar voz a estas imágenes (donde además participan distintos colectivos marginalizados) es importante en cuanto registro fotográfico, pues el enfoque central del proyecto está en el arte y en la educación como agentes de transformación de la realidad, aliados a la palabra, como testimonio de un poder capaz de cambiar a la sociedad.

Siendo mucho más que una mera muestra sobre arte y erotismo, Fantasías Caleidoscópicas reúne una reivindicación social, un proyecto educativo y, por sobre todo, un ejemplo de vida, donde Leandra comparte testimonios pocas veces manifestados en sociedad por parte de una mujer con discapacidad. “Conocí otras bocas, probé otros gustos, sentí otros perfumes, toqué otras pieles, conocí otros cuerpos. Pero siempre de personas con alguna condición física diferente de lo que la sociedad nos impone como patrón. Fueron experiencias únicas y muy significativas para mi madurez sexual. Me enamoré bastante, pero siempre en procura de algo más allá del deseo carnal. Viví intensamente cada fantasía sexual y experimenté muchas sensaciones deliciosas… Pero todo fue hecho siempre a escondidas. En el fondo no me asumía. No asumía que tenía un cuerpo preparado para seducir. No me imaginaba junto a alguien que no tuviera una discapacidad física”, comparte Leandra en el site de sus Fantasías Caleidoscópicas.

Para Leandra, este proyecto ayudará a la sociedad en general a derribar los límites de su percepción de lo bello y lo deseable, pero por sobre todo permitirá a las familias de las personas con discapacidad considerarlos y respetarlos como seres sexuales. “Lo más difícil todavía es mostrar a mi familia que ya crecí. Que no soy una niña y menos asexuada. Cuando comencé mi última relación escuché comentarios terribles que me rasgaban por dentro. Las personas que más amo en la vida no creían que yo pudiese ser, simplemente, feliz. ¿Por qué será que los padres de las personas con discapacidad no aceptan que sus hijos tienen sexualidad? ¿Por qué será tan doloroso para ellos asumir que sus hijos pueden ser felices realizándose en la cama (en el sofá, en el suelo, en la escalera, en el ascensor…) con sus cuerpos, simplemente diferentes? Espero que un día, todos aprendan que la simetría y la perfección fueron conceptos creados por ellos mismos, por lo tanto, pueden ser destruidos en cualquier momento”.

En este proyecto no hay espacios para la complacencia de una mirada segura de sus búsquedas, anquilosada dentro de patrones establecidos. Cada imagen, cada testimonio ironiza sobre los parámetros de lo aceptado y abre una brecha para la reflexión seria y comprometida acerca del daño que los preconceptos generan en la sociedad y la propia persona que los sostiene. “Es terrible sentir que los prejuicios todavía están tan arraigados. Existen varios pésimos profesionales de la salud que, simplemente, ignoran la sexualidad de las personas con discapacidad. Yo misma sufrí una agresión tan intensa que nunca va a cicatrizar. A los 18 años, fui obligada a visitar a una ginecóloga amiga de mi familia. Una mujer amarga, estúpida y totalmente antiética. Incrustó un libro de anatomía en mi cara, me trató como una niña y me dijo que yo no tenía derecho de usar mi cuerpo para nada. Me prohibió tener relaciones sexuales, y luego -mirándome a los ojos y apuntando con el dedo a mi nariz- que yo no podía hacer nada con mi cuerpo sin antes hablar con alguien de mi familia. Además de todo esto tuvo cara para preguntarme si ya había tenido novio. Quiso saber, en detalles, todo lo que yo había hecho con él. Me obligó a contar todo. No respondió ninguna de las preguntas que le hice. No esclareció ninguna duda. No me informó sobre métodos anticonceptivos ni sobre enfermedades de transmisión sexual. Y lo peor de todo es que se negó a examinarme”.

Vera Albuquerque y Leandra Migotto Certeza han asumido sin dudas un proyecto verdaderamente integral y esclarecedor acerca de la sexualidad y el erotismo en las personas con discapacidad, que no sólo permitirá abrir este espacio vedado hacia la sociedad en general, sino que por sobre todo servirá como inspiración a muchas personas con diversidad de condiciones físicas y sensoriales para auto-explorar el variado universo de su sexualidad.

“La idea es decir a una sociedad anestesiada (esperamos que no esté ‘en coma’) con la dictadura de la belleza ideal, de la perfección, de los cuerpos saludables y bien torneados, de las formas esbeltas, que la seducción, las fantasías, los amores, las pasiones y la sensualidad están en la diversidad de cuerpos, miradas, perfumes, gestos, colores, formas, tamaños, palabras, texturas, sonidos y sentimientos, caleidoscópicamente humanos”, concluye Leandra.

Fontes: http://www.minusval2000.com/relaciones/ArchivosRelaciones/erotismo_y_sensualidad.html


http://www.elcisne.org/ampliada.php?id=1495